tag:blogger.com,1999:blog-4243590602886529372024-03-13T05:48:56.216-07:00Um olhar na janelaÉ um blog de literatura, onde são publicados contos e poesias.Laine Krisshttp://www.blogger.com/profile/09803690197805827366noreply@blogger.comBlogger6125tag:blogger.com,1999:blog-424359060288652937.post-88083067521990528732010-10-03T16:07:00.000-07:002010-10-03T16:07:10.515-07:00Um olhar na janela<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Laine Kriss</span></b></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Aprendi a amar aquele olhar desamparado e triste. Da minha janela eu começava a tocar, observando ansiosa o momento que ele surgiria do outro lado. Ouvia a música, e o olhar impenetrável parava no tempo daquela janela.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Ninguém sabia de onde tinha vindo aquele homem, nem quem era ele. E eu era apaixonada por aquele mistério. Sabia apenas que ele aparecia na janela toda vez que eu tocava. Parecia que a música o atraía. Hoje já não sei se era a música que o tocava, ou era ele quem fazia a música soar. Sei apenas que a visão era a minha inspiração.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não havia um dia, em que ele não aparecesse, e todos os dias eu tocava. E a janela só fechava quando eu parava de tocar. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Investigando, eu descobri que ele nunca saía. E comecei a tocar de manhã, à tarde e à noite em todas as horas possíveis, até não mais agüentar. O olhar nostálgico na janela virava música em meu teclado. Já não sabia mais tocar na ausência daquele olhar, que soprava as músicas mais tristes que eu cheguei a tocar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mas o que me intrigava era o mistério que o envolvia. Sonhava um dia desvendá-lo, como uma menina curiosa que não se satisfaz com a história inventada, e procura pelos detalhes, até<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>descobrir a verdade inevitável de que tudo era uma mentira. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Eu era toda desejo, desejo de conhecer. Um dia quando acordei, decidi não tocar. Fui desvendar o mistério. Parei na frente da casa e bati, não me atenderam, então forcei a janela e entrei.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">A casa estava vazia. Não havia móvel algum. Apenas num canto, um mendigo olhava o tempo, com aquele mesmo olhar enigmático que eu já conhecia. Assustada saí correndo. E voltei a tocar desesperadamente, para que o mundo voltasse a ser um grande mistério. Impossível! Já havia feito a descoberta fatal. A música não era mais a mesma.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Depois daquele dia nunca mais o olhar apareceu na janela, e eu nunca mais consegui tocar. Meus dedos ficaram mudos. Inconformada, voltei à casa, as paredes estavam vazias. Ele fugiu, e levou a minha música com ele.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div>Laine Krisshttp://www.blogger.com/profile/09803690197805827366noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-424359060288652937.post-60084971281545750822010-10-03T14:23:00.000-07:002010-10-03T14:23:33.554-07:00Uma sombra<div align="right"><strong>Laine Kriss</strong></div><div align="right"><br />
</div><div align="right"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Um escritor pára no tempo, uma sombra o persegue. Angustiado, ele tenta fugir para mundos inventados, mas não consegue, a sombra o cerca. Em minutos, o escritor será devorado. Diante do papel em branco, ele busca uma saída. E pasmo descobre que não há portas. Então ele grita, “e agora José?” Mas José não ouve, ele está perdido em outro lugar. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nesse espaço, a sombra cresce, e o escritor já quase entregue, percebe que atrás da sombra há uma chave. E para essa chave, inventa uma porta, por onde ele foge, prendendo a sombra naquela escuridão, até o dia em que ela se libertar. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></div><div align="justify"></div>Laine Krisshttp://www.blogger.com/profile/09803690197805827366noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-424359060288652937.post-69182262406071705332010-09-25T17:57:00.000-07:002010-09-25T17:57:10.083-07:00Minutos antes de entrar no Palco...<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Algo a distinguia das outras. Era um ser ausente. Eu ficava horas, tentando penetrar naquela dimensão em que se ausentava. Mas era impossível. Por vezes, seus olhos enfurecidos viam o mistério, mas as palavras errantes não o decifravam. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Aquele ar etéreo era o meu deslumbre. Era tanta liberdade, que ela se perdia... Brincava de voar com o vento, que a levava para aquele espaço vazio, que só ela conseguia penetrar. E eu a acompanhava com a limitação dos meus olhos. As vezes sentia seu pesado olhar sobre mim, como se temporariamente, ela voltasse a habitar aquele corpo mórbido, mas logo fugisse como uma ilusão. Outras vezes, seus assombrados olhos pareciam buscar uma fuga daquilo que eternamente a perseguia. De repente, ela havia atravessado aquele espaço tênue que separa a realidade e a fantasia. E nunca mais conseguiu voltar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não foi assim que nasceu. Nunca me pareceu ser uma menina feliz. Andava sempre sozinha. Se escondendo atrás daquele olhar perdido. Escondia na alma um sonho, que somente a mãe o conhecia. As duas dividiam um pequeno espaço, cercadas pelo silêncio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Naquele dia, havia acordado antes que o galo cantasse. Ouvira dizer que isso dava azar, mas não conseguia dormir. Virou-se ainda na cama, tentando achar o sono que já havia perdido. Inútil. Levantou. Ensaiou, ensaiou, ensaiou...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quando já não agüentava, parou. Não tinha como falhar. Tudo parecia perfeito. Seria atriz. Já ouvia os aplausos, todos para ela, a menina solitária. Hora de ir, a mãe iria depois. Deixou ainda na cama e saiu.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No camarim olhou-se no espelho. Não era mais uma menina qualquer, era uma atriz. Minutos antes de entrar no palco olhou para o céu, como a pedir coragem. E entrou. Olhou aflita ao redor. Procurava a mãe. Cadê?! Não a encontrou. Não acreditou. Voltou a olhar. Ela não estava. Vacilou. Parou um instante ofega, tentando lembrar o texto. Impossível! Aquela fração de segundo lhe pareceu eterna. Havia esquecido o texto. E ficou parada ali, sem forças para fugir. De repente, como se acordasse de um sonho saiu do palco num sobressalto. Deixando para trás um espaço vazio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Voltou para casa aos soluços. Não acreditava que a mãe tivesse esquecido. Naquele dia derrubaria a redoma de silêncio. Gritaria, esbravejaria... A porta estava trancada como deixou. A mãe ainda estaria dormindo. Entrou furiosa. Foi direto ao quarto, ela não estava. Passou pela cozinha, e entrou no quarto escuro que costumavam guardar lembranças. A fúria já lhe tomava o corpo. As mãos trêmulas acenderam a luz. E seus olhos ficaram, para sempre, presos naquele corpo enforcado. </span></div>Laine Krisshttp://www.blogger.com/profile/09803690197805827366noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-424359060288652937.post-10807150313177680432010-09-13T18:41:00.001-07:002010-09-13T18:41:26.572-07:00Modificações“Vamos ter que fazer algumas modificações”, disse sem olhar para mim. Estremeci. Não havia nada para mudar. De onde teria surgido aquela idéia? Fiquei a pensar, e senti um forte aperto no coração, como se uma mão o estivesse espremendo violentamente por dentro. Só poderia ser separação, constatei em susto. Eu estava velha, e ele havia me trocado por outra. <br />
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Os pensamentos embaralhavam-se numa confusão... Eu estava muda. Senti-me cruelmente traída. Trocada por outra como um sapato velho. Foi então que me surgiu a idéia de atender aos olhares do vizinho, que me convidavam para fugir do paraíso.<br />
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Convidei-o para um jantar. Quando meu marido chegou, estávamos na sobremesa. A voz entrou docemente ao quarto: “Querida lhe trouxe um presente, vamos ter que fazer uma garagem”. Nem bem fechou a boca, abriu a porta do quarto.Laine Krisshttp://www.blogger.com/profile/09803690197805827366noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-424359060288652937.post-76432288208503863812010-09-13T18:39:00.000-07:002010-09-13T18:39:14.260-07:00O acidenteO transito andava como tartaruga em dia de sol. Disseram que era acidente. Ouviu aquilo com êxtase. Acidente! Estava atrasado para ver a filha que chegara do Rio. Mas acidente mexia com ele.<br />
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Saiu do carro, e foi verificar se era verdade. Logo a frente havia um amontoado de gente. Só poderia ser ali. Foi encostando com ânsia. A curiosidade lhe roubava os sentidos. Olhou, procurando detalhes. Viu um corpo branco jogado ao chão, havia pouco ferimento. <br />
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Então distraiu-se fumando um cigarro. Sentiu algo molhando o pé. O corpo era agora uma enorme poça de sangue. Olhou assustado, tentando entender. Não havia mais corpo, apenas sangue. Sentiu um arrepio.<br />
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Do outro lado encontrava-se um outro corpo. Aproximou-se devagar. Disseram que estava feio. Sentiu uma enorme excitação. Com dificuldade vencia a multidão que o cercava. A ânsia aumentava a cada comentário. E quando finalmente chegou, de repente o rosto ficou pálido e desenhou um grito de horror, que ficou para sempre mudo.<br />
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<span style="background-color: #f9cb9c;"></span>Laine Krisshttp://www.blogger.com/profile/09803690197805827366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-424359060288652937.post-16963274609639875502010-09-13T18:36:00.000-07:002010-09-13T18:36:07.659-07:00Um lugar azulUm lugar azul<br />
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Andava apressada, queria logo chegar em casa, tirar o sapato e assistir a novela. Parou impaciente, frente ao trânsito. Não gostava de atravessar a rua, com aquele medo eterno dos carros.<br />
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Foi nesse instante que viu numa vitrine o sorriso de uma boneca, que a encheu de ternura. Aqueles olhos azuis a levaram para algum lugar esquecido na infância. E o mundo de repente transformou-se num imenso paraíso azul, por onde ela começou a andar. Os passos eram lentos, cheios de fantasias. O corpo a levava, levemente adormecida. Andava... quando sentiu um forte encontro que a fez voar para aquele mundo azul...Laine Krisshttp://www.blogger.com/profile/09803690197805827366noreply@blogger.com1